Artigo publicado na Revista "Pontos de Vista" 62 - página 32
Se há 30 anos nos dissessem que sair fora da zona de conforto era sinónimo de desenvolvimento pessoal e até profissional, dificilmente acreditaríamos. Contudo, somos de uma geração e país que agora tem a oportunidade de viver a grande aventura Erasmus.
Iniciado em 1987 como programa de intercâmbio no estrangeiro, dirigido aos estudantes do ensino superior, o Erasmus+ é hoje em dia conhecido por oferecer milhares de oportunidades por ano a quem pretenda realizar um período de mobilidade dentro ou fora da Europa, para fins de aprendizagem, estágio ou formação.
No entanto, por mais popular que seja o programa e a quantidade de informação disponibilizada, ninguém está, na verdade, preparado para embarcar na grande aventura que é ir de Erasmus. E é isso que o torna tão especial.
É impossível colocar em palavras a ansiedade sentida pelos jovens quando recebem a confirmação de que vão sair da sua zona de conforto. Entre documentos e burocracias que teimam em não acabar, as suas cabeças já vão estar longe, a pensar onde vão viver, se vão perceber o que lhes dizem numa língua com a qual podem até nunca ter tido contacto, se vão gostar e se não se vão arrepender. Tudo isto ao mesmo tempo que fazem uma contagem regressiva dos dias que faltam para viver aquela que será A experiência da sua vida.
É exatamente no meio destes receios e anseios que acabam por se cruzar com quem (con)vive diariamente com Erasmus: os voluntários da rede Erasmus Student Network (ESN).
Presente em 40 países europeus, a maior associação de estudantes da Europa conta com cerca de 15 mil voluntários que se dedicam à integração de mais ou menos 200 mil jovens que decidiram participar no programa Erasmus+ ou outros programas de mobilidade. Em terras lusitanas, a ESN Portugal conta atualmente com 14 secções locais (Algarve, Aveiro, Bragança, Castelo Branco, Coimbra, Covilhã, Évora, Leiria, Lisboa, Madeira, Minho, Porto, Tomar, Vila Real) em 15 cidades, compostas por um total de cerca de 500 jovens voluntários que trabalham diariamente para a criação de aprendizagens mais flexíveis, apoiando a mobilidade de jovens em diferentes níveis e proporcionando uma experiência intercultural para aqueles que não podem participar em programas de intercâmbio (“internacionalização em casa”).
Desengane-se quem pensa que estes voluntários não fazem mais do que promover a cultura “Erasmus é só festa”. Porque Erasmus também é festa, mas não só. Ir de Erasmus significa fazer parte de uma nova sociedade, descobrir novos hábitos, reeducarmo-nos enquanto seres humanos que vão abrir as suas mentes e tornar-se mais tolerantes e apreciar melhor a vida. Ser Erasmus significa redescobrirmos uma melhor versão de nós mesmos. Para os voluntários da ESN, Erasmus é uma experiência transformadora através da qual os jovens se desafiam e superam, conhecendo outras realidades que lhes permitem crescer enquanto cidadãos do mundo capazes de contribuir para o desenvolvimento da sociedade. Desta forma, asseguram-se de que a experiência Erasmus não fica reduzida aos sucessos académicos, e para além das atividades culturais onde é possível visitar e conhecer o nosso país ou aprender outras línguas, os voluntários da ESN Portugal desenvolvem iniciativas de caráter social que permitem que os participantes do programa Erasmus+ usem o seu tempo livre de forma produtiva, voluntariando-se para causas sociais. Na verdade, os voluntários da ESN enriquecem o período de mobilidade de outros jovens, contribuindo para a expansão dos seus horizontes através da aprendizagem fora do contexto sala de aula. Inevitavelmente, o contacto com outros participantes Erasmus que as atividades da ESN proporciona, traduz-se numa oferta cul- tural adicional que de outra forma os jovens não poderiam ter acesso. A longo prazo, esta experiência internacional é uma porta privilegiada para o mercado de trabalho.
Com quase 28 anos de existência, desde cedo a ESN tem envidado esforços não só para acompanhar o programa Erasmus+, mas também para contribuir positivamente no seu desenvolvimento. Mostrando que Erasmus não consiste apenas em viajar ou estudar fora, a ESN tem colaborado na afirmação do programa como fator-chave para o envolvimento ativo dos participantes nas comunidades locais, promovendo assim uma melhor compreensão cultural e inspirando os jovens a regressar aos seus países de origem com a vontade de também ali serem agentes de mudança. Para além disso, na ESN cultiva-se a ideia de que é possível viver e identificarmo-nos com os mesmos valores de solidariedade e tolerância.
É possível a construção de uma identidade comum - a identidade Europeia. E o facto destes jovens voluntários estarem unidos pelo mesmo objetivo, sob os mesmos valores, prova que todos os envolvidos no programa Erasmus+ estão não só de parabéns pelos seus 30 anos, como também por tornarem este programa um dos maiores sucessos da herança da União Europeia.
ESN Portugal